Platão - recordação.
A recordação da essência da alma: "Descobrir é recordar"
Será que todos os indivíduos têm a capacidade de se libertarem da caverna e alcançarem a visão do Sol, atingindo assim a verdade? Será que todos podem abandonar a ignorância, o conhecimento sensorial e imperfeito, e alcançar o conhecimento perfeito e verdadeiro do mundo inteligível? A resposta de Platão a essas indagações encontra-se na teoria da recordação da alma.
Mito de Er, conhecido também como Mito da Recordação ou da Anamnese.
Neste mito, Platão relata a história do pastor Er, que, conduzido por uma divindade, visita o reino dos mortos, onde as almas de todos os seres humanos contemplam serenamente as ideias ou formas inteligíveis. Nesse lugar, as almas aguardam o momento em que poderão reencarnar em novos corpos, e têm a liberdade de escolher a vida que terão na Terra. Após fazerem suas escolhas, elas são levadas ao rio do esquecimento, chamado Léthe (oposto de Alétheia, que significa verdade ou o não esquecido). As almas que optam por uma vida de prazeres, desejos, luxúria, fama, prestígio e riquezas, bebem abundantemente da água do rio do esquecimento. Já as almas que escolhem uma vida de conhecimento e sabedoria bebem dessa água em pequena quantidade. No caso das almas que ingerem grande quantidade de água, elas se afastam quase completamente do conhecimento, pois esquecem das ideias que um dia contemplaram. Por outro lado, aquelas que bebem em menor quantidade estão mais próximas do conhecimento, pois conseguem facilmente lembrar-se das ideias perfeitas que já contemplaram. Essas últimas almas anseiam pela verdade, são atraídas por ela e amam o saber, pois guardam uma vaga lembrança do que um dia contemplaram.
Dessa forma, podemos compreender por que, para Platão, descobrir é recordar. As ideias já foram contempladas, o ser humano já as conhece através da alma. O processo de conhecimento consiste em, através da dialética, conduzir a alma à lembrança daquilo que já existe em seu interior.