4. Parmênides de Eleia

Parmênides de Eleia

4. Parmênides de Eleia

Parmênides de Eleia, nascido por volta de 515 a.C., foi um importante filósofo pré-socrático e é considerado o fundador da Escola Eleática de filosofia. Eleia, sua cidade natal, estava localizada no sul da Itália, na Magna Grécia, e era um centro cultural e filosófico da época.

 Embora existam poucos detalhes disponíveis sobre a vida pessoal de Parmênides, sabe-se que ele foi discípulo de Xenófanes e teve um grande impacto sobre seus contemporâneos e filósofos posteriores, incluindo Platão e Aristóteles. O filósofo Zenão de Eleia foi um de seus discípulos mais notáveis, e juntos, eles desenvolveram e propagaram as ideias centrais da Escola Eleática.

 A principal obra de Parmênides, intitulada "Sobre a Natureza", foi escrita em forma de poema e divide-se em duas partes: a Via da Verdade e a Via da Opinião. Infelizmente, grande parte de seu trabalho original foi perdida, e o que conhecemos hoje é uma compilação de fragmentos citados por filósofos posteriores.

 Na Via da Verdade, Parmênides argumenta que a realidade é eterna, imutável e indivisível, e que a mudança e o movimento são meras ilusões. Ele defende a ideia do "Ser" como único e eterno, afirmando que "o Ser é, e o Não-Ser não é". Essa visão contrasta com as teorias de outros filósofos pré-socráticos, como Heráclito, que acreditava na natureza transitória e mutável do mundo.

 Na Via da Opinião, Parmênides discute o mundo dos sentidos e das aparências, onde as mudanças e as diferenças são percebidas. Ele considera essas percepções como ilusões e acredita que o verdadeiro conhecimento só pode ser alcançado através da razão pura e da lógica.

 O pensamento de Parmênides teve um impacto significativo na filosofia ocidental, especialmente na metafísica e na ontologia. Ele levantou questões fundamentais sobre a natureza da realidade e do conhecimento, que foram debatidas e desenvolvidas por filósofos posteriores.

 Embora algumas das ideias de Parmênides possam parecer contraditórias e complexas, sua contribuição para o pensamento filosófico foi inestimável. Ele estabeleceu a importância da lógica e da razão na busca pela verdade e abriu caminho para o desenvolvimento da filosofia como um campo de investigação racional e sistemática. Em suma, Parmênides é uma figura central no estudo da filosofia antiga e continua sendo um dos filósofos pré-socráticos mais estudados e respeitados.

 Teorias de Parmênides

 Parmênides foi um filósofo pré-socrático e poeta grego que se tornou conhecido por seu poema filosófico, no qual a verdade e a realidade são analisadas por meio de três vias de pesquisa distintas. Neste texto, Parmênides propõe um novo paradigma, diferente do de seu antecessor Xenófanes, o que o torna um inovador e revolucionário no campo da filosofia pré-socrática.

 As três vias da pesquisa:

a) A via da verdade absoluta

b) A via das opiniões falaciosas ou da absoluta falsidade

c) A via da opinião plausível

 A via da absoluta verdade: Nesta via, Parmênides afirma que o ser é, e o não-ser não é. Ele fundamenta essa afirmação no princípio de que o ser é a única coisa pensável e represável, enquanto o não-ser é impensável e inexprimível. Este princípio tem sido interpretado como a primeira formulação do princípio de não-contradição, que afirma a impossibilidade de os contraditórios coexistirem simultaneamente.

 A via das opiniões falaciosas ou da absoluta falsidade: Esta via é a que Parmênides considera fechada à pesquisa, pois o não-ser é impensável e inexprimível. Ao negar o ser ou afirmar o não-ser, ele acredita que se está cometendo um erro absoluto.

 A via da opinião plausível: Esta via é aquela que Parmênides tenta considerar de alguma forma verossímil, admitindo a existência das aparências e investigando todos os aspectos possíveis. É a via em que ele explora o conhecimento humano e o pensamento dos mortais.

 Parmênides apresenta uma visão filosófica única e radical sobre a verdade, a realidade e a existência, que teve um impacto significativo no pensamento filosófico subsequente. Ao propor um princípio de não-contradição e explorar os limites do conhecimento humano, ele estabeleceu um marco no desenvolvimento da filosofia grega.

 Aristóteles, filósofo grego que sucedeu Parmênides, expandiu e sistematizou os princípios lógicos e gnosiológicos correspondentes ao princípio da não-contradição, que constitui o fundamento de toda a lógica antiga e ocidental. Parmênides aplicou esse princípio principalmente na ontologia, levando a várias conclusões importantes:

 O ser é infinito e incorruptível: Segundo Parmênides, o ser não pode ter sido gerado, pois isso implicaria que ele deriva do não-ser (que não existe) ou do ser (que já existe). Da mesma forma, o ser não pode se corromper, pois isso implicaria que ele se tornaria não-ser. Portanto, o ser é eterno e imutável.

 O ser não tem passado nem futuro, mas é sempre presente: Parmênides afirma que o ser não possui início nem fim, sendo sempre presente e contínuo. Isso se deve ao fato de que a existência de um passado implicaria que o ser não existiria mais, e a existência de um futuro implicaria que o ser ainda não existiria.

 O ser é uno e contínuo: Parmênides argumenta que o ser é um todo indivisível e coeso, sem separação ou fragmentação.

 Essas conclusões são derivadas do princípio de não-contradição, que afirma a impossibilidade de os contraditórios coexistirem simultaneamente. No caso de Parmênides, esses contraditórios são o ser e o não-ser. Se o ser existe, o não-ser não pode existir, e vice-versa.

 Aristóteles desenvolveu ainda mais essas ideias e estabeleceu os fundamentos da lógica e da ontologia, que formam a base do pensamento filosófico ocidental. O legado de Parmênides e Aristóteles é uma profunda compreensão da natureza da existência e da realidade, bem como do processo de raciocínio e investigação.

 Essa admissão viola o princípio da não-contradição, que afirma que algo não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Para Parmênides, os sentidos humanos são enganosos e iludem as pessoas a acreditar na existência do não-ser, levando-as a uma visão equivocada e contraditória da realidade. Ao contrário, o lógos (razão) conduz ao conhecimento verdadeiro, que sustenta a existência do ser como algo único, imutável, ingênuo, incorruptível e eterno.

 A via do erro, portanto, é aquela em que as pessoas confiam em suas percepções sensoriais e na experiência, em vez de seguir a razão e o lógos. Essa via leva a uma compreensão falha e contraditória da realidade, onde o ser e o não-ser coexistem e se transformam um no outro. Parmênides argumenta que devemos rejeitar essa visão e aderir ao princípio da não-contradição, que nos leva à verdadeira compreensão do ser.

 Ao negar a realidade do não-ser e enfatizar a importância do lógos, Parmênides estabelece uma base sólida para a lógica e a ontologia ocidental. Sua filosofia destaca a necessidade de fundamentar o conhecimento na razão e no pensamento lógico, em vez de confiar apenas na experiência e na percepção sensorial. Essa ênfase na lógica e na razão se tornaria uma característica central da filosofia ocidental e influenciaria pensadores posteriores, como Aristóteles, que desenvolveria ainda mais as ideias de Parmênides e estabeleceria os fundamentos da lógica formal.

A terceira via: a explicação plausível dos fenômenos e a "doxa" parmenidiana

 Tradicionalmente, o pensamento de Parmênides era visto como enrijecido numa posição de absoluta negatividade em relação à doxa (opinião comum). No entanto, recentemente, emergiu a ideia de que Parmênides concedia certa plausibilidade às aparências e, portanto, reconhecia alguma validade aos sentidos, desde que adequadamente compreendidas.

 Nesse sentido, Parmênides reconhecia a possibilidade e a legitimidade de um tipo de discurso que tentasse explicar os fenômenos e as aparências sem ir contra o grande princípio, isto é, sem admitir o ser e o não-ser simultaneamente.

 Os mortais, segundo Parmênides, cometeram um erro ao admitir ser e não-ser, e ao estabelecer duas formas supremas: "luz" e "noite", concebendo-as como contrárias. O filósofo buscou corrigir esse erro ao mostrar que as duas formas estão incluídas numa superior unidade necessária, ou seja, na unidade do ser.

 Parmênides expôs uma "opinião plausível", além da falaciosa, e buscou dar conta dos fenômenos de uma forma que não transgredisse o seu princípio da verdade. No entanto, essa tentativa estava destinada a falhar, pois ao reconhecer "luz" e "noite" como ser, elas deveriam perder qualquer nota diferenciadora e tornarem-se idênticas, já que o ser é sempre e somente "igual", isto é, idêntico a si mesmo.

 Assim, ao tentar reconstruir um mundo dos fenômenos de modo plausível, Parmênides esvaziava-o de sua riqueza e o fixava na imobilidade do ser. Após Parmênides e os eleatas, era necessário que a filosofia encontrasse novas vias que permitissem salvar, além do ser, também os fenômenos.

 Resumo:

1.                  Parmênides, um filósofo pré-socrático, é uma figura central na filosofia ocidental, conhecido por sua afirmação de que "o ser é".

2.                  Essa afirmação defende a ideia de que a existência é eterna, imutável, contínua e uniforme, fundamentando a ontologia, ou filosofia do ser.

3.                  No poema de Parmênides "Sobre a Natureza", existem duas vias de investigação principais: a Via da Verdade e a Via da Opinião.

4.                  A Via da Verdade é o caminho que leva à realidade imutável e eterna, segundo a lógica e a razão, enquanto a Via da Opinião reflete as ilusões sensoriais e opiniões humanas sobre a realidade.

5.                  Parmênides defendia que a realidade percebida pelos sentidos era ilusória e que a verdadeira realidade era imutável e eterna.

6.                  Parmênides é conhecido por sua afirmação de que o não-ser não é, rejeitando a possibilidade do vazio ou do nada.

7.                  As ideias de Parmênides influenciaram muitos filósofos notáveis, incluindo Platão, Zênon e Aristóteles.

8.                  Na teoria das formas de Platão, as formas são concebidas como eternas e imutáveis, existindo em um reino além do sensível, refletindo a influência de Parmênides.

9.                  Zênon de Eléia, discípulo de Parmênides, desenvolveu seus paradoxos para defender as ideias de Parmênides, desafiando a noção de movimento e mudança e apoiando a ideia de um universo estático e imutável.

10.               Aristóteles, influenciado por Parmênides, desenvolveu suas teorias sobre substância e essência, argumentando que a substância é imutável e eterna, mas pode se manifestar de diferentes maneiras, incorporando um elemento de mudança na aparência e qualidades acidentais.

11.               O trabalho de Parmênides desafiou a cosmologia dominante de sua época, que era centrada na mudança e transformação.

12.               Parmênides argumentou contra a noção de que a realidade é construída de opostos, como quente e frio ou claro e escuro. Para ele, a realidade é uno, eterno e imutável.

13.               A filosofia de Parmênides apresentou um dilema para filósofos subsequentes: como reconciliar a imutabilidade do ser com a evidência sensível de mudança e diversidade?

14.               A solução de Parmênides para este dilema foi insistir que nossas percepções sensoriais são enganosas, e que apenas a razão pode nos levar ao conhecimento verdadeiro.

15.               Parmênides de Eleia continua sendo uma figura influente na filosofia, principalmente por seu trabalho que desafiou as noções existentes de realidade e iniciou um debate que perdura até hoje sobre a natureza do ser e da existência.

Última atualização: segunda, 12 jun 2023, 11:55